T-Shirts

Marcelo Maria de Castro  @marcelomariadecastro

As camisetas de Marcelo Maria de Castro têm como ponto de partida obras realizadas – e disponíveis para comercialização na forma de giclées com tiragens de 11 exemplares – a partir de esculturas em pedra africanas, do povo Shona do Zimbabue. Vistas na Quinta da Bacalhoa, antiga propriedade da Casa Real Portuguesa, na freguesia de Azeitão, município de Setúbal, elas tratam de elos entre o mundo humano e o difino, em estilizadas pirâmides. Se a formas vêm do continente onde nasceu a Humanidade, a cor é o resultado de uma pesquisa sobre o IKB (International Klein Blue), também chamado de Azul Klein, designação da tonalidade obtida pelo artista francês com a mistura de uma determinada quantidade de pigmentos registrada em 1960. Um dos precursores da body art, Yves Klein (1928-1962) utilizava corpos femininos como suporte para sua arte. Elas eram usadas como pincéis vivos, na técnica chamada como “Antropometria” (“Medições visuais do corpo humano”), em que cobria modelos por tinta azul e, da maneira que eram regidas, elas se arrastavam e formavam manchas sobre as telas. Esse conceito tem um desenvolvimento diferente sob Hélio Oiticica (1937-1980) que, com seus célebres Parangolés – que começaram a ser produzidos em meados dos anos 1960 – propunha elos entre a dança, a música e as artes visuais. O projeto se tornou progressivamente mais intenso com a aproximação e colaboração dele, no Rio de Janeiro, RJ, com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Se as mulheres são o instrumento de Klein, com o objetivo de “desintelectualizar” a sua arte, o brasileiro torna o corpo das pessoas como suporte. Seus Parangolés são capas de tecido com cores vibrantes. Elas são vestidas pelos moradores e dançarinos da comunidade, que interagem com as roupas de modo a dar liberdade para a cor. As vestes se tornam assim extensões de seus corpos, passando a ser inseparáveis deles. Portanto, as camisetas de Marcelo Maria de Castro são uma maneira de recontar essa história, que vai da África ao Rio de janeiro, passando pela França. Em todas essas dimensões, há conceitos de verticalidade e de elos entre a arte e os corpos, seja como meio ou como suporte da criação.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.

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